RUBENS VALENTEda Folha de S.Paulo
Em ofício entregue à Justiça Federal na última sexta-feira, o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que naquele dia deixou o comando da Operação Satiagraha com outros dois delegados, apontou suposta "tentativa de obstrução à investigação" e citou alegadas pressões exercidas pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira, diretor de Combate a Crimes Financeiros da direção geral da PF, em Brasília.
O delegado narrou, no documento de 16 páginas, que, um dia antes das prisões da Satiagraha, Teixeira e o superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra, lhe cobraram a entrega da lista dos investigados contra os quais haveria mandado de prisão expedido pela Justiça Federal no âmbito da operação. Segundo Queiroz, Teixeira lhe fez vários telefonemas com os mesmos pedidos e teria dito "palavras de baixo calão".
Numa das ligações, segundo Queiroz, Teixeira teria dito que, "do jeito que está sendo feito, o superintendente Leandro informou que não ocorrerá operação policial, bem como se ele [Teixeira] fosse superintendente em São Paulo, também procederia da mesma forma".
Os mandados de prisão temporária contra o banqueiro Daniel Dantas, o investidor Naji Nahas e outras 20 pessoas haviam sido expedidos pelo juiz da 6ª Vara Federal Criminal Fausto De Sanctis no dia 4, sexta, três dias antes da reunião.
As prisões ocorreriam no dia 8, terça. Segundo o delegado, na noite anterior às prisões, por volta das 20h, ele foi chamado a uma reunião com Teixeira e Coimbra na sala do superintendente em São Paulo, quando lhe cobraram os nomes.
Queiroz escreveu que se recusou a entregar os nomes dos futuros presos, alegando que poderia haver vazamento e os investigados poderiam recorrer a um habeas corpus. A recusa gerou um bate-boca. O delegado disse que o pedido não seria um procedimento de rotina. A reunião que destituiu Queiroz do comando da operação ocorreu uma semana depois.
No ofício encaminhado à Justiça, o delegado apontou suposta falta de apoio à fase final da operação, principalmente a promessa não cumprida do envio de 50 agentes da PF para realizarem o trabalho de perícia do material coletado no dia 8 --o envio só foi confirmado depois da saída de Queiroz.
O delegado também afirmou, no ofício entregue à Justiça Federal, que sofreu "perseguição" em quadras de Brasília desde janeiro deste ano, assim como outros integrantes da operação, conforme revelou a Folha na edição do último domingo.
A assessoria de comunicação da direção geral da PF, em Brasília, procurada ontem às 22h, informou que a polícia não iria comentar os ofícios de Queiroz e que a direção da instituição já se colocou à disposição da Justiça "para prestar todos os esclarecimentos".
A assessoria de comunicação da superintendência da PF em São Paulo, procurada ontem por volta das 22h no telefone celular, não foi localizada
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